Lisboa, Portugal.
O risco constante de incêndios somado à baixa umidade dos solos e os impactos na agricultura conduzem a Europa para a pior seca dos últimos cinco séculos. A constatação é da Comissão Europeia e foi divulgada nesta terça-feira (23), utilizando dados do Observatório Europeu da Seca como referência. Além disso, o continente também enfrenta uma forte onda de calor, com recordes de temperaturas das últimas décadas em países como a Espanha e Portugal.
Em agosto, 64% da Europa está em condição de alerta pela falta de chuva. De acordo com o relatório, “quase todos os rios” do continente foram afetados: “A combinação de uma seca severa e ondas de calor criou um estresse sem precedentes nos níveis de água em toda a UE [União Europeia]”, alertou Mariya Gabriel, comissária para Inovação, Pesquisa, Cultura, Educação e Juventude.
As duas principais consequências apontadas pela líder europeia são os incêndios florestais e o impacto na agricultura. Países como Portugal, Espanha e Grécia enfrentam uma onda de incêndios desde o início do verão. Segundo estimativa do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, encaminhada ao Agora Europa, até a semana passada a área total atingida pelo fogo foi de 393 mil hectares, o equivalente a 365 mil campos de futebol.
Prejuízos na agricultura
Em 17% da UE as vegetações já apresentam problemas e 47% do bloco está com a umidade do solo prejudicada, conforme o documento divulgado. A previsão é que o rendimento do milho seja 16% abaixo da média dos últimos cinco anos, enquanto o de soja seja de 15% e de girassóis, de 12%.
Em Portugal, por exemplo, tanto a estiagem quanto os incêndios prejudicaram as pastagens, levando o governo a disponibilizar 500 mil euros para auxiliar os agricultores na compra de ração animal. As pessoas interessadas no subsídio podem fazer a solicitação pelo portal do instituto de agricultura.
Na França, que também enfrenta uma série de incêndios florestais, somados com a falta de chuva, os agricultores receberão um reforço nos apoios financeiros já oferecidos e isenção fiscal em áreas perdidas: “Esta situação de seca é histórica. Todos os usuários, todos os setores são afetados. O governo implementou um conjunto de mecanismos que garantem um apoio harmonizado e territorializado aos intervenientes”, ressaltou Bérengère Couillard, secretária de Ecologia da França.
A estimativa do Ministério da Agricultura é que a produção de milho fique 16,8% abaixo da safra passada. Ao mesmo tempo, as autoridades francesas conscientizam a população sobre o uso racional da água, uma vez que em 93 dos 96 departamentos do território estão em vigilância, sendo 78 em situação de crise.
Na Espanha, conforme o governo, pequenos e médios municípios que não estão conectados aos grandes sistemas de gestão: “Não é apropriado alarmar sobre uma situação de seca não homogênea em todo o país e que a Espanha está enfrentando em melhores condições do que outros países europeus porque tem experiência na gestão desses episódios”, contextualizou Hugo Morán, secretário de Estado do Ambiente, durante reunião da Mesa do Ciclo Urbano da Água, realizada nesta semana.
Já no território holandês, a região leste é a mais afetada pela seca. Foram acionados dois mecanismos no Canal do Mar do Norte e no Canal Amsterdã-Reno para diminuir os efeitos da estiagem. Por enquanto não foram realizadas ações para racionar a água, mas um plano já existe, caso a situação seja necessária, explica o governo.
Na Itália, onde a seca também prejudica os níveis de água e a agricultura, alguns municípios decretaram medidas de racionamento. É o caso de Verona, na região Norte, onde a prefeitura proibiu a utilização do recurso das 6h até às 21h, com exceção dos fins domésticos, como beber, cozinhar e higiene pessoal. A irrigação é desaconselhada. O governo também reforçou em 200 milhões de euros o Fundo Nacional de Solidariedade disponibilizado aos agricultores.
Preocupação com as mudanças climáticas
Meteorologistas europeus preveem um mês de setembro mais quente que o normal. Já a Comissão Europeia destaca que “condições mais quentes e secas do que o habitual provavelmente ocorrerão na região euromediterrânica ocidental nos próximos meses, até novembro de 2022”. Ao mesmo tempo em que enfrenta uma seca histórica, algumas regiões tiveram um grande volume de chuva com tempestade, ocasionando enchentes, como foi o caso da França na semana passada.
As mudanças climáticas e a sustentabilidade tem sido uma questão chave nas discussões do bloco: “A Comissão Europeia e seus cientistas estão trabalhando incansavelmente para mapear e estudar esta crise com a melhor tecnologia disponível, do espaço e no terreno, e estão liderando os esforços para proteger nosso meio ambiente e nossos cidadãos de emergências”, declarou a comissária. No verão de 2021, diversos países europeu enfrentaram enchentes que destruíram casas e mataram cerca de 200 pessoas.