
Madri, Espanha.
O leite materno de mulheres vacinadas contra o coronavírus ou que tiveram Covid-19 contém anticorpos que defendem o recém nascido de uma infecção por este tipo de vírus. Nas amostras de leite analisadas não foi encontrado nenhum vestígio de coronavírus e a maioria apresentou anticorpos específicos contra a SARS-CoV-2. Essa é a conclusão de um estudo realizado na Espanha e apresentado nesta segunda-feira (14).
A pesquisa, intitulada MilkCorona, foi liderada pela investigadora do Instituto de Agroquímica e Tecnologia de Alimentos (IATA) do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), María Carmen Collado; e pela doutora Cecilia Martínez Costa, do Serviço de Pediatria do Hospital Clínico de Valência. Foram os primeiros estudos realizados no país com leite materno e que compararam os efeitos de três vacinas aplicadas contra o coronavírus.
Nenhum vestígio de RNA de coronavírus no leite materno
O estudo MilkCorona detectou nas amostras de leite, a presença dos anticorpos IgA, IgG e IgM contra proteínas estruturais do SARS-CoV-2, como o chamado Receptor Binding Domain (RBD), uma parte essencial do vírus que permite infectar células. Também encontrou anticorpos contra proteínas não estruturais, como a protease principal (MPro). Essa última foi analisada pela primeira vez no leite materno graças à tecnologia desenvolvida pela pesquisadora do CSIC, Mar Valés, e a equipe do Centro Nacional de Biotecnologia (CNB-CSIC). Os anticorpos IgA foram encontrados em níveis mais elevados do que IgG e IgM em amostras de leite materno.
“Estes resultados sustentam, de forma evidente, a importância de recomendar a amamentação em todos os casos em que a mãe tenha poucos ou nenhum sintoma”, afirmou a médica Martínez Costa.
Estudo desenvolvido com diferentes vacinas
A presença de anticorpos contra SARS-Cov-2 foi analisada nas amostras recolhidas por 75 lactantes vacinadas com diferentes imunizantes:
– 30 mulheres receberam as duas doses da vacina da Pfizer;
– 21 mulheres receberam as duas doses da Moderna;
– 24 mulheres receberam somente a primeira dose da AstraZeneca.
O estudo mostrou a presença de anticorpos específicos (IgA e IgG) em todas as amostras. Além disso, os níveis variaram de acordo com a vacina recebida, bem como em função da existência de uma infecção prévia.
Algumas das mulheres vacinadas haviam sido infectadas por coronavírus e, após a primeira dose de um dos imunizantes, o leite materno passou a apresentar níveis de anticorpos equivalentes aos de mulheres saudáveis com as duas doses. Segundo a pesquisa, isso comprova que indivíduos que tiveram Covid-19 alcançam imunidade, medida pelo sangue, com uma única dose.
“A amamentação é uma prioridade, e ainda precisamos de mais estudos para confirmar o potencial papel protetor desses anticorpos presentes no leite materno contra a Covid-19 em crianças”, salienta María Carmen Collado, investigadora do IATA-CSIC.
Outras cidades integram a pesquisa
Outros hospitais nas cidades de Valência, Barcelona, Granada e Zaragoza participam da iniciativa MilkCorona e vão prosseguir com a investigação. O objetivo agora é descobrir o impacto das novas variantes do coronavírus sobre os anticorpos presentes no leite materno e os efeitos nas mulheres que receberam as duas doses da vacina AstraZeneca.
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