Lisboa, Portugal.
“Valeu a pena esperar”. Entre emoção, aplausos e música, o cantor e escritor brasileiro Chico Buarque recebeu, nesta segunda-feira (24), o Prêmio Camões. A cerimônia que marca a mais importante premiação da língua portuguesa ocorreu depois de uma espera que durou quatro anos. O evento contou com a participação de autoridades brasileiras e portuguesas e ocorreu em Lisboa, no Palácio Nacional de Queluz, casa onde vivia o imperador Pedro I.
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente luso, definiu a entrega do prêmio como “mais um assinalável encontro entre Brasil, Portugal e a democracia”. O chefe de estado destacou a data do evento, que ocorre às vésperas do dia 25 de Abril, data em que se celebra o fim da ditadura em Portugal.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente brasileiro, classificou o atraso na entrega como “um dos maiores erros e maiores absurdos cometidos pela cultura nos últimos anos”. Lula acrescentou que a realização da cerimônia foi uma “vitória do talento contra a censura”.
O artista brasileiro não havia recebido o prêmio até então porque o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro se recusou a assinar o diploma que formaliza a premiação. Na época, Chico ironizou a situação: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões”, escreveu nas redes sociais. O documento havia sido assinado pelo presidente luso ainda em 2019.
Conhecido principalmente pela obra musical, Buarque também é autor de livros como Estorvo, Budapeste, Benjamin, Anos de Chumbo e Leite Derramado. O brasileiro já venceu outros prêmios literários como Jabuti e a distinção francesa Roger Caillois em 2017.
Chico vai cumprir em maio e junho uma agenda de shows em Portugal, com espetáculos marcados para acontecer no Porto e em Lisboa. Os ingressos esgotaram rapidamente, sendo confirmados concertos extras nas duas cidades. No entanto, todos os bilhetes já foram vendidos.
Brasileiros são os mais premiados da história
A edição de 2022 também teve um brasileiro como vencedor: o escritor mineiro Salviano Santiago. Assim, totalizam 14 premiados do Brasil, ultrapassando os 12 vencedores portugueses.
Os brasileiros homenageados na distinção literária são: Salviano Santiago, Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Autran Dourado, Antonio Cândido de Melo e Sousa, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto.
O Prêmio Camões foi criado em 1989 com objetivo de reconhecer um escritor ou escritora que contribua para a projeção da língua portuguesa: “o Prêmio Camões, sendo um prêmio de consagração, tem o mérito de estimular o interesse pela literatura em língua portuguesa, fomentar o reconhecimento mútuo e incentivar à leitura dos autores da lusofonia para além das fronteiras do país de origem do premiado”, explica Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura luso. O vencedor ou vencedora recebe um prêmio de 100 mil euros, pago em conjunto pelos governos de Portugal e Brasil.
