Inglaterra vai oferecer vape gratuito para um milhão de fumantes

O governo britânico lançou uma iniciativa inédita para tentar reduzir o número de fumantes na Inglaterra. O plano, anunciado nesta terça-feira (11), promete distribuir aproximadamente um milhão de cigarros eletrônicos nos próximos dois anos para incentivar a substituição do produto tradicional pelo vape. O esquema, chamado de “Trocar para parar” (“Swap to stop”, em inglês), pretende alcançar um em cada cinco fumantes do território inglês.

A proposta vai ainda mais longe para o público gestante. Às mulheres grávidas, o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido (DHSC, sigla em inglês) também vai oferecer um voucher de 400 libras, caso todas as etapas do esquema sejam cumpridas. A meta, nesse caso, é reduzir o número de bebês nascidos abaixo do peso ou subdesenvolvidos em decorrência do uso do cigarro.

Por enquanto, ainda não estão definidas as regras para que os fumantes possam acessar os vapes gratuitos ou os vouchers, no caso das gestantes. Ao Agora Europa, uma porta-voz do governo britânico afirmou que as autoridades locais inglesas vão ser convidadas a submeter uma proposta de parceria que detalhe estratégias sustentáveis de execução do plano.

“As propostas serão avaliadas por um painel de acordo com critérios acordados e publicados. As Autoridades Locais que desejarem participar devem oferecer um serviço local para [os residentes] pararem de fumar que atenda aos padrões nacionais e faça retornos regulares de monitoramento do serviço”, reforçou a porta-voz.

A representante do DHSC afirmou ainda que o Governo planeja investir até 45 milhões de libras no esquema nos próximos dois anos. A quantia será destinada aos atuais projetos pilotos já em andamento no país.

Como funciona o vape

A principal diferença entre cigarro tradicional e o eletrônico é que o vape não realiza a queima do tabaco e, portanto, não produz alcatrão ou monóxido de carbono. Segundo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, sigla em inglês), esses são “dois dos elementos mais prejudiciais da fumaça do tabaco”.

O vape, por outro lado, aquece um líquido (chamado e-líquido) que, na maioria dos casos, contém nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal e aromatizantes. Esse vapor é, então, tragado pelo usuário do aparelho.

Uso de vape por crianças

Se, por um lado, os britânicos estão motivando os fumantes a trocarem o cigarro pelo vape; por outro, também vão iniciar uma batalha paralela para coibir a venda de cigarros eletrônicos a crianças e adolescentes. A atenção a esse comércio ilegal ficou ainda mais forte com os dados coletados pelo Sistema Nacional de Saúde do país (NHS, em inglês).

Em quatro anos, de 2018 a 2021, subiu de 6% para 9% a porcentagem de crianças e adolescentes entre 11 e 15 anos que utilizavam cigarros eletrônicos. Esse aumento levou o atual líder do DHSC, Neil O’Brien, a incluir no plano “Swap to Stop” uma força tarefa para a fiscalização do comércio de vape para menores na Inglaterra.

Inglaterra tem menor porcentagem de fumantes do Reino Unido

A Pesquisa Anual sobre a População (APS, sigla em inglês), apresentada no final do ano passado, mostra que 13,3% dos residentes do Reino Unido se declararam fumantes em 2021. O índice é maior na Escócia (14,8%) e menor na Inglaterra (13%). Já no País de Gales e na Irlanda do Norte, a porcentagem fumante da população é de 13,8%.

O estudo também mostrou que, quanto maior o nível educacional, menor a taxa de consumidores de cigarros. O índice de fumantes sem acesso ao ensino superior no Reino Unido é de 28,8%. Já entre os residentes com diploma universitário, a taxa é de 6,6%.

O objetivo do governo britânico é reduzir a porcentagem de fumantes para 5% ou menos até 2030. A meta percentual é a mesma da vizinha União Europeia (UE), embora o bloco ambicione atingir esse objetivo somente em 2040.

Principal causa de mortes prematuras na União Europeia

Todos os anos, cerca de 700 mil pessoas morrem prematuramente na UE como resultado do consumo de tabaco. Segundo a Comissão Europeia, cerca de 50% dos fumantes morrem, em média, 14 anos antes do que a estimativa de vida para a vítima.

No bloco europeu, uma em cada quatro (26%) residentes consome tabaco. Entre os jovens de 15 a 24 anos, a taxa é ainda maior, 29%.

Cigarro eletrônico no Brasil

Desde 2009, a comercialização de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também desautoriza a importação e propaganda de quaisquer cigarros eletrônicos, o que inclui cigarrilha, charuto, cachimbo ou similares.

Embora a decisão tenha sido tomada há mais de uma década, a Anvisa manteve o mesmo posicionamento após uma uma reavaliação técnica da legislação aplicada em 2009. O endossamento da Agência brasileira consta no Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR), publicado em julho do ano passado. A Anvisa pede ainda que sejam reforçadas as estruturas de fiscalização do comércio ilegal dos dispositivos no Brasil.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) do Brasil também se opõe ao uso de vapes. Segundo o INCA, “o cigarro eletrônico pode causar doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar (…), e doenças cardiovasculares, dermatite e câncer”. Embora sem o uso dos dispositivos eletrônicos, o Sistema Único de Saúde (SUS) também oferece tratamento integral e gratuito para quem deseja abandonar o cigarro no Brasil.

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