
Lisboa, Portugal.
Pelos próximos quatro anos, a brasileira Ananda Stuart poderá se dedicar integralmente à pesquisa de doutorado sobre a relação de pais com crianças em ambientes vulneráveis em Portugal. A psicóloga de 29 anos, natural de Alagoas, foi uma dos 175 cientistas brasileiros contemplados com bolsas de doutorado oferecidas pelo governo português neste ano. O número é 22,4% superior a 2021, quando 143 estudantes do Brasil foram vencedores no processo seletivo.
O processo seletivo, considerado o mais importante e concorrido do país, é realizado anualmente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Mais uma vez, cientistas do Brasil lideram o ranking de projetos de doutorado aprovados entre os estrangeiros em Portugal: “Foi uma das maiores conquistas da minha vida”, destaca Ananda, estudante da Universidade do Porto. Os brasileiros são os imigrantes que mais vencem o concurso há, pelo menos, três anos. Em 2020, foram 115 aprovações.
Neste ano, foram oferecidas 1.450 bolsas. Conforme dados disponibilizados pela FCT ao Agora Europa nessa semana, o número de doutorandas brasileiras contempladas é quase o dobro do de doutorandos, com 114 mulheres e 61 homens. Já em segundo lugar entre os estrangeiros estão os cidadãos da Itália, que totalizam 40 pessoas, sendo 27 mulheres e 13 homens.
O cientista brasileiro Rodrigo Limoeiro, de 28 anos, também foi aprovado no concurso. Natural do Rio de Janeiro, o pesquisador mora em Portugal desde 2014, entre idas e vinda com o país natal. Formado em gestão e com mestrado em sociologia, o brasileiro vai dar sequência na formação sociológica durante o doutorado na Universidade de Coimbra.
Em entrevista ao Agora Europa, o imigrante relatou que está se sentido muito orgulhoso pela conquista. O projeto aprovado de Rodrigo é um estudo sobre as cidades e culturas urbanas. A pesquisa busca identificar como os grandes eventos e a valorização imobiliária afetam algumas regiões de Portugal.
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Ananda e Rodrigo vão receber 1.144,64 euros mensais durante quatro anos para frequentar as aulas e desenvolver os projetos. Neste período, não é permitido que tenham outros trabalhos, ou seja, a dedicação precisa ser exclusiva. Os entrevistados avaliam que, em comparação com o Brasil, Portugal está oferecendo mais condições para que os cientistas possam desenvolver seu trabalho.
“Infelizmente o Brasil tem cortado inúmeros financiamentos e aqui ao menos temos a oportunidade de investimento por um tempo e valor justos”, pontua a psicóloga. Rodrigo também destaca que a situação é mais favorável no país europeu no que diz respeito ao pagamento feito aos bolsistas: “No Brasil existem oportunidades, no entanto os valores pagos não condizem com a realidade brasileira”, complementa o cientista.
Um quarto das bolsas destinadas a imigrantes
No total, 348 imigrantes foram contemplados com os recursos neste ano. O número total de bolsas de doutorado disponibilizadas, 1.450, é o mesmo que em 2021. Em 2022, foram recebidas 3.130 candidaturas de 54 países, enquanto na edição anterior participaram doutorandos de 43 territórios diferentes.
O concurso é anual e as inscrições, normalmente, abrem entre os meses de março e abril. Podem concorrer os imigrantes com Autorização de Residência (AR) válida e diplomas de graduação e mestrado equivalentes em Portugal. Em 2021, o governo luso lançou, dentro do Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025, a proposta de revisão da lei sobre o reconhecimento e equivalência de diplomas de ensino superior. No entanto, a medida ainda não avançou.
Outra ação do plano é a simplificação dos vistos para estudantes. Conforme a mais recente alteração na lei, que deverá ser publicada no Diário da República em breve, não será mais necessário um parecer prévio do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para aprovação do visto de estudante.
A autorização pode ser solicitada por todas as pessoas que sejam aprovadas em instituições de ensino portuguesas. Tanto nos cursos de graduação, mestrado e doutorado, os cidadãos do Brasil são maioria entre os estrangeiros nas universidades portuguesas.