Portugal: preço dos aluguéis tem maior alta dos últimos cinco anos em Lisboa

Brasileiros enfrentam dificuldades para alugar casas em Portugal. Foto: Canva


Alugar um imóvel Portugal, país com o maior número de brasileiros na Europa, está cada vez mais caro. Na capital Lisboa, o aumento foi de 4,9% no segundo trimestre de 2022 em comparação com os três meses anteriores conforme um estudo divulgado nessa semana pela empresa Confidencial Imobiliário, que realiza análises do mercado imobiliário. Essa é a maior alta registrada desde 2017 segundo a instituição. Já no Porto, o valor dos aluguéis subiu 3,7% no mesmo período, conforme a pesquisa.

Em todo o país, somente no primeiro semestre deste ano, o preço dos aluguéis subiu 6,3% no comparativo com o mesmo período do ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). O aumento é reflexo da alta na inflação no continente europeu, que tem apresentado crescimento recorde mês a mês impulsionado pela guerra na Ucrânia. Em julho, a inflação atingiu 8,9% na zona do Euro e foi ainda mais alta em Portugal, chegando a 9,4%, conforme dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat, em inglês).

A situação dificulta a vida da população, que inclui uma grande parcela de brasileiros que vivem no país. O imigrante Wescley Almeida, que vivia na capital lusa há cinco anos, precisou deixar o apartamento onde morava após a dona do imóvel dobrar o valor do aluguel de 700 para 1,4 mil euros: “Foi muito difícil encontrar outro. [Eu] ficava no site da OLX quase 24 horas e usava a estratégia de não dizer que era brasileiro pra não ser ignorado de cara”, relata ao Agora Europa o potiguar de 34 anos. 

Depois de muita procura, o brasileiro precisou deixar a região central e se mudou para Amadora, na Área Metropolitana de Lisboa (AML) há quatro meses. Na região, encontrou um apartamento, que divide com a esposa à espera do primeiro filho do casal, por 600 euros: “Tem que procurar muito e insistir muito, está difícil porque o preço é muito maior que o salário aqui e tem muita gente procurando”, relata o profissional, que trabalha como manobrista.

Além dos preços, outro desafio é o fato de os proprietários dos imóveis solicitarem o recebimento de aluguéis adiantados. Dependendo da situação, a exigência chega a seis pagamentos dos chamados “cauções”. Em alguns casos, os imigrantes também precisam apresentar um fiador português, além de ter feito a declaração do Imposto de Renda, chamado de IRS em Portugal, e um contrato de trabalho, o que pode ser mais obstáculo para quem acabou de se mudar para o país. 

Alta nos preços não é exclusividade das grandes cidades

Mesmo os brasileiros que escolhem morar em localidades menores, teoricamente mais baratas em termos de habitação, sofrem com o peso da inflação e do valor dos aluguéis. É o caso do carioca Thiago Rodrigues, que mora com os dois filhos em um trailer na cidade de Faro, região do Algarve.

“É difícil demais, aqui não se encontra um apartamento por menos de 700 euros. Eu moro no motor home por 400 euros, mas é muito difícil, não tem privacidade nenhuma, é calor demais no verão e frio no inverno”, explica o imigrante, que se mudou para Portugal no final de 2018 e tem 40 anos. 

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Na opinião de Thiago, que trabalha na área de pintura e construção civil, os proprietários dos imóveis “perderam o senso”, uma vez que as casas são caras e nem sempre em boas condições. Para o imigrante, a moradia é a maior dificuldade no país, mas avalia que Portugal é um bom local para se viver, principalmente pela segurança e qualidade do ensino público. 

De acordo com o relatório do INE, municípios como Matosinhos, na região Metropolitana do Porto, e a Vila Nova de Famalicão, também na região Norte, tiveram aumentos de quase 15% nos aluguéis nos três primeiros meses deste ano. Ambas cidades possuem menos de 30 mil habitantes.

“Aumento que pode gerar uma crise social”

O economista Pedro Brinca destacou que já era previsto um aumento dos aluguéis perto dos 5%. No entanto, o profissional define como “brutal” o aumento das moradias e do custo de vida em Lisboa e também nas demais cidades: “O aumento não é acompanhado pelos salários e, somado à diminuição real do poder de compra das famílias pode gerar uma crise social”, avalia o especialista. Em julho, a taxa de inflação foi a mais alta desde 1992, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas.

O economista chama atenção para o fato de, hoje, os valores dos aluguéis em Portugal corresponderem a 40% do salário: “Imagine, quase metade vai para o aluguel. Um aumento de 5% é muito impactante”, analisa Pedro. O  salário mínimo bruto no país é de 705 euros, um dos mais baixos da Europa ocidental, também apresentando significativa carga de impostos no comparativo com outros países.

Alternativas do governo excluem parte dos imigrantes

As prefeituras de Lisboa e do Porto, as duas maiores cidades do país, oferecem opções de aluguel acessível periodicamente, mas as iniciativas excluem parte dos imigrantes, especialmente quem acabou de se mudar. A Autorização de Residência (AR) é uma condição obrigatória para concorrer em todas as iniciativas.

Em Lisboa, o atual concurso está com inscrições abertas até o dia 31 de agosto, com 33 apartamentos de baixo custo que vão de estúdios até quatro quartos. Periodicamente a prefeitura da capital divulga a iniciativa no site. No Porto, o último concurso teve as inscrições fechadas no final de julho, com cinco habitações disponíveis. Ainda não foi divulgada a data da próxima edição.

O mesmo ocorre para os programas do governo, que oferecem apartamentos com valores mais baratos. No entanto, ter a AR é obrigatório para ter acesso. Na última abertura de vagas, 100 famílias receberam as chaves dos apartamentos. Atualmente, não há previsão de quando novos imóveis serão disponibilizados.

Como os programas não beneficiam pessoas recém chegadas em Portugal, os brasileiros Wescley e Thiago orientam que, na situação atual, os imigrantes “tragam muito dinheiro” para se manter e cumprir com as exigências de aluguel. Outra dica é para que, de preferência, o imóvel seja alugado antes mesmo da chegada no país. Nesse caso, porém, é importante ficar atento a golpes.

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