
Lisboa, Portugal.
Uma rede criminosa suspeita de contrabandear 10 mil imigrantes através do Canal da Mancha, que separa a França e o Reino Unido, foi alvo de operação em cinco países europeus. A ação conjunta, realizada pela Agência Europeia de Cooperação em Justiça Criminal (Eurojust) e pela Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol), resultou em 39 pessoas presas, de acordo com um comunicado divulgado nesta quarta-feira (6).
Segundo as forças policiais, o grupo utilizava pequenos barcos para a travessia até o Reino Unido. O valor cobrado por pessoa variava entre 2,5 mil euros e 3,5 mil euros, dependendo da nacionalidade. A maior parte dos imigrantes em busca de realizar a travessia eram do Oriente Médio.
O comando da organização estava localizado na cidade francesa de Calais, localizada próxima ao canal, no norte do país. A polícia estima que até 15 barcos com imigrantes eram enviados ao mesmo tempo, sendo que cerca de metade conseguia chegar no Reino Unido. A suspeita é que as atividades estavam em andamento desde, pelo menos, outubro de 2020.
Os investigadores revistaram cerca de 50 locais e encontraram 1,2 mil coletes salva-vidas, 150 barcos e 50 motores, armas de fogo, drogas e “vários milhares de euros” em espécie. As apreensões e detenções foram realizadas durante toda a terça-feira (5). Conforme a Eurojust, 18 prisões aconteceram na Alemanha, mas os suspeitos serão extraditados e processados na França e Bélgica.
Em Londres, seis pessoas foram presas, enquanto a ação na França resultou em nove prisões, além de outras seis detenções na Holanda. Entre os presos, estão três pessoas suspeitas de terem altos cargos dentro da organização. A investigação começou no final do ano passado, quando 16 pessoas foram presas na França.
“A rede de contrabando de migrantes era altamente profissional, tendo criado sua própria infraestrutura logística com filiais específicas encarregadas de adquirir grandes quantidades de equipamentos náuticos de dentro e de fora da União Europeia”, informa a Europol.
Ainda de acordo com o comunicado, os atravessadores mudavam de tática regularmente para evitar que fossem detectados. Entre as ações, utilizavam “barcos maiores e a cobertura da noite para contrabandear o maior número possível de migrantes, sem se preocupar com sua segurança”. Os policiais estimam que o volume de negócios realizado pelo grupo pode chegar a 15 milhões de euros.
Triplo de travessias em pequenos barcos

Segundo a Europol, o uso de pequenas embarcações se tornou o principal meio de travessia de imigrantes no Canal da Mancha. Antes, a tática mais utilizada era o transporte em caminhões. Até o final do ano passado, 50 mil pessoas tentaram fazer a travessia de barcos, número três vezes maior do que em 2020.
“O afluxo de imigrantes para a União Europeia é acompanhado por práticas degradantes de contrabando de pessoas. Os contrabandistas de pessoas geralmente operam em organizações criminosas internacionais e suas atividades colocam vidas em risco. As travessias marítimas arriscadas e outras formas de trânsito resultam regularmente em vítimas”, destacam as autoridades policiais europeias.
No primeiro semestre deste ano, estima-se que 11,5 mil pessoas conseguiram chegar ao Reino Unido através do canal. A polícia acredita que, no período, mais de 30 milhões de euros tenham sido movimentados pelas organizações criminosas que atuam nessa área.