Lisboa, Portugal.
Entre os impactos provocados pela pandemia de Covid-19 na sociedade, está a mudança no ambiente de trabalho profissional. O chamado home office (escritório em casa), passou de algo temporário para uma tendência em muitas empresas na Europa, mesmo após a possibilidade de os trabalhadores retornarem ao sistema presencial. Uma pesquisa divulgada nesta semana, realizada em oito países europeus, analisou como está a relação dos profissionais com as mudanças.
Os pesquisadores definiram alguns dos resultados como um “paradoxo”. As pessoas identificaram uma maior carga de trabalho, mas também possuem mais tempo de lazer e para realizar atividades com a família. O estudo “Survey Attack: Relatório de Bem-Estar Teletrabalho 2022” levou em consideração a experiência de trabalhadores desde o início da pandemia de Covid-19 até o momento. Dos oito mil profissionais ouvidos, 28% relataram que a carga de trabalho aumentou quando passaram a trabalhar de casa e 25% afirmaram que as horas de trabalho também ficaram maiores.
Ao mesmo tempo, 36% dos entrevistados disseram que têm mais tempo para passar com a família e 29,4% conseguem conciliar atividades físicas. Outro resultado é que 14,4% passaram a ter mais tempo dedicado a se alimentar de forma mais saudável.
“As pessoas podem certamente trabalhar mais e ter mais tempo livre. A eliminação de deslocamentos longos e um horário mais flexível ao longo do dia, com uma boa organização, podem gerar mais tempo livre. Horários de trabalho personalizados, habilidade digital e outros fatores de bem-estar podem também ser causas”, explica Christian Montag, especialista na influência das tecnologias digitais na psicologia.
Essa é a situação vivida pelo brasileiro André Medeiros, de 50 anos, que atua na área de moderação de conteúdo online em Lisboa: “Sem sombra de dúvidas tenho mais tempo para investir em qualidade de vida, como ter uma alimentação mais caseira, dormir mais, fazer exercícios e ficar no tão importante ócio criativo”, explica o alagoano que mora há dois anos em Portugal, um dos países participantes na pesquisa.
O profissional relata que ir até o escritório presencialmente consome até duas horas por dia, tempo que utiliza para o bem-estar ao atuar de maneira remota. A desvantagem que analisa ao trabalhar de casa, porém, é a falta de interação presencial com os colegas. O fator citado pelo brasileiro aparece em primeiro lugar, no estudo, quando são avaliados os motivos de estresse enfrentado pelos participantes. A falta dos encontros presenciais com os colegas afeta 35,3% dos entrevistados.
“Tecnostress”
De acordo com Christian Montag, o “tecnostress”, ou seja, o estresse gerado pela relação com a tecnologia no trabalho em casa, tem ganhado espaço na empresas. A pesquisa indicou que 20,5% dos participantes sofre do problema que envolve, por exemplo, equipamentos inadequados para o desenvolvimento do serviço e conexão de internet fraca.
“No futuro, as empresas da Europa devem ter presente a noção de que digitalidade e psicologia são duas faces da mesma moeda. Discussões sobre burnout na era digital ou tecnostress estão se tornando cada vez mais importantes”, destaca o especialista.
Montag ainda pontua que a nova realidade do trabalho precisa de atenção: “O escritório em casa está se transformando na nova realidade, e esta situação necessita de uma atenção e de um cuidado constantes, para que o novo modelo de trabalho na Europa não acabe a ser a razão principal de uma ida à terapia”, finaliza o psicólogo. Participaram da pesquisa trabalhadores da Alemanha, Áustria, Itália, Espanha, Grã-Bretanha, França, Polônia e Portugal.