Espanha: casos de Covid-19 aumentam quatro vezes entre público infantil

Os menores de 12 anos apresentam uma taxa de contágios de 5.813 positivos para cada 100 mil habitantes. Foto: Canva

Em um mês, a taxa de contágios de coronavírus entre crianças e adolescentes quase quadruplicou na Espanha. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde nessa sexta-feira (28), os menores de 12 anos apresentaram, nas últimas duas semanas, uma incidência acumulada de 5.813 contaminados para cada 100 mil habitantes. O número é 397% maior do que o registrado durante os 14 dias encerrados em 27 de dezembro. Já entre o público de 12 e 19 anos foram contabilizados, nas últimas duas semanas, 3.967 novos casos positivos para cada grupo de 100 mil habitantes. Para esta parcela de adolescentes, o número representa um aumento de 317% em relação ao período anterior.

Casos de Covid-19 para cada 100 mil habitantes na Espanha

Menores de 12 anos

<strong>5.813</strong>

<em>Nos últimos 14 dias</em>

De 12 a 19 anos

<strong>3.967</strong>

<em>Nos últimos 14 dias</em>

Em 27 de dezembro do ano passado, a taxa de contágio estava em 1.466 casos para cada 100 mil habitantes, entre os menores de 12 anos de idade. Entre os adolescentes de 12 a 19 anos, a taxa de contaminação foi de 1.249 casos para cada 100 mil pessoas.

Atualmente, esse é o público com mais casos positivos de Covid-19 no país, de acordo com o último relatório epidemiológico do Ministério da Saúde. Apesar do avanço da campanha de vacinação que iniciou no dia 15 de dezembro e já imunizou 54,4% do público infantil de 5 a 11 anos de idade, ainda é alta a incidência acumulada de contaminados nesta faixa etária, em comparação com outros períodos da pandemia.

Surtos de casos positivos nos colégios de Madri 

Apesar do uso obrigatório da máscara em sala de aula para todos os alunos a partir dos seis anos de idade, o novo protocolo Covid-19, determinado pelo governo regional de Madri, segue gerando discussões na comunidade escolar.

O documento que entrou em vigor no dia 5 de janeiro, na volta às aulas, determina que só haverá confinamento de uma sala de aula se forem registrados, no mínimo, cinco casos positivos ao mesmo tempo. Como a gestão da pandemia cabe à cada comunidade autônoma, em outras regiões do país com só três casos positivos, a sala já deve entrar em quarentena.

Para a Federação de Associações de Pais e Mães de Alunos (FAPA) Giner de Los Ríos da Comunidade de Madri, o novo protocolo é ineficaz para frear novos contágios e deixa os alunos mais expostos à contaminação: “Os dados epidemiológicos evidenciam a situação de vulnerabilidade a que estão expostas as crianças menores e suas famílias frente à pandemia. Por este motivo, denunciamos a ineficácia das novas regras adotadas nos centros educativos da Comunidade de Madri”, diz a presidente Maria Carmen Morillas. No último dia 21 de janeiro, a entidade apresentou uma denúncia formal aos Conselhos de Saúde e Educação de Madri, em que exige a revisão das medidas.

A FAPA também denuncia a falta de provas diagnósticas aos contatos diretos de alunos que testem positivo em Covid-19 na sala de aula. Além disso, pede maior coordenação entre as diferentes administrações (central e regionais) para que haja agilidade na identificação e isolamento dos contaminados.

“Em Madri, temos que esperar que sejam detectados no mínimo 3 casos positivos para que os colégios comuniquem a situação à Saúde Pública. Por outro lado, os profissionais de saúde estão saturados e demoram muito em dar resposta. Quando atuam nos colégios, os três casos já se transformaram em 15 positivos, na mesma sala”, denuncia a presidente.  Maria Carmen Morillas salienta ainda que falta agilidade das autoridades locais para substituir os professores contagiados, especialmente os de matérias específicas e os alunos acabam perdendo o conteúdo das disciplinas.

A entidade solicita ainda a modificação do procedimento de justificativa de quarentena por contato direto, especialmente entre os alunos de até 12 anos. De acordo com a presidente Federação, “os critérios técnico-cientificos para um correto controle da pandemia seguem recomendando realizar testes diagnósticos, rastreio de contatos diretos e isolamento dos casos confirmados, de maneira simultânea e coordenada”, lembra Maria Carmen.

Número de alunos e professores contaminados na Espanha

De acordo com dados do Ministério da Educação enviado ao Agora Europa na sexta-feira (28), atualmente, há 332.877 alunos isolados em casa por testarem positivo para Covid-19, por apresentarem sintomas ou porque que tiveram contato direto com um contaminado. O que representa, segundo a pasta, 4, 25% do total de alunos de 17 comunidades e cidades autônomas do país (91,28% do total de alunos na Espanha).

Considerando as salas de aula em quarentena, ao todo há 3.743 em quarentena, somando os dados de todas as 19 comunidades e cidades autônomas do país. O que representa 0,90% do total de salas de aula, segundo o Ministério da Educação.

Quanto ao número de professores contagiados na Espanha, os dados de 16 regiões do país reunidos pelo Ministério da Educação informam que há 23.532 educadores em casa, com Covid-19 ou em quarentena. O número representa 3,93% dos professores.  

Pais preocupados com o aumento de contágios

A economista Maria del Carmen Zurita Lopez, mãe de três filhos pequenos em idade escolar, crê que a situação está descontrolada entre o público infantil. Para ela, há muito mais contágios  do que os divulgados oficialmente, porque a Comunidade de Madri não dá conta de contabilizar todos os positivos nas escolas ou não fica sabendo do resultado dos testes de antígenos realizados em casa.

Além disso, há muitas crianças e adolescentes assintomáticos, que estão com Covid-19 e não sabem. “Todo mundo que conheço em Madri me diz que algum colega dos filhos testou positivo em Covid-19. A situação está descontrolada”, comenta a economista.

Sobre o novo protocolo Covid-19 adotado em Madri, Maria Del Carmen concorda com a FAPA e acha que é evidente que as medidas não são suficientes para conter os contágios. Mas, pensando sob o ponto de vista econômico, sim pode ser o adequado.

“A economia espanhola não pode permitir que as classes sejam fechadas para cada caso Covid identificado, porque assim os pais não poderiam trabalhar e a economia paralisaria. O volume de casos é alto. No entanto, outras medidas poderiam ser adotadas nos colégios, como o uso de máscara obrigatória também para os menores de seis anos e o impedimento da realização de atividades extraescolares com grupos que não sejam os seus de convivência diária em sala de aula”, acrescenta a mãe.

Para a Federação de Associações de Pais e Mães de Alunos (FAPA) Giner de Los Ríos da Comunidade de Madri, faltam também políticas públicas para conciliar a vida familiar e profissional. Uma situação que se arrasta há décadas e que durante a pandemia, aflorou ainda mais, diz a presidente da entidade.

“Faltam ferramentas específicas para garantir o cuidado e atenção de nossos filhos e filhas, doentes ou em quarentena em casa. As administrações públicas não assumem a responsabilidade e a situação recae sobre o ambiente familiar, com consequentes implicações no aumento das desigualdades sociais. É necessário que toda a comunidade educativa participe e dialogue, chegando a um consenso quanto à tomada de decisões”, conclui Maria Carmen Morillas.

Pais devem denunciar os casos positivos aos colégios

No Colégio de Huérfanos de la Armada Nuestra Señora de Carmem (CHA), o protocolo Covid-19 é levado à risca. Conforme rege a nova norma da Comunidade de Madri, o colégio não pode fechar uma sala de aula se a autoridade sanitária não der autorização, conforme relata o coordenador Covid do colégio, Francisco José Garcia Sánchez.

“O procedimento prevê que os pais é quem devem avisar à escola se o filho apresenta sintomas de Covid-19 ou testou positivo para a doença. E, portanto, ser responsável em fazer quarentena, permanecendo toda família em casa por, no mínimo, 7 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas ou do primeiro teste positivo. E só retornar à escola, 72h depois do desaparecimento total dos sintomas para evitar novos contágios”, conta o subdiretor.

Pela Lei de Proteção de Dados, nenhuma escola pode exigir certificado de vacinação ou afastar alunos por conta própria. Somente a autoridade sanitária tem a competência para fechar salas de aula e confinar uma classe inteira. Portanto, depois do aviso dos pais e a constatação de três casos positivos em sala de aula, ao mesmo tempo, a escola deve acionar o Conselho de Saúde para que tome os devidos procedimentos.

Mas, o alto número de contágios não está permitindo que haja agilidade para atender os pedidos no tempo necessário, o que pode contribuir para o surgimento de novos casos positivos, admite Francisco. “Já tivemos casos aqui no colégio em que a autoridade sanitária foi avisada e demorou sete dias para dar retorno. Quando nos atendeu, já estávamos em outro momento, até porque quando um contagiado não é rapidamente isolado, em 24 ou 48 horas já há o aparecimento de novos positivos”, comenta ele.  

“No Colégio CHA, nunca tivemos mais de 10% dos alunos contagiados com Covid-19”, comenta o subdiretor. Ele relata que o maior número de casos é detectado entre os alunos entre 12 e 15 anos de idade. “A maioria é assintomático e só descobre que está com Covid-19  porque é uma faixa etária que realiza mais testes”, acrescenta Francisco.

Mesmo assim, para evitar novos casos, o colégio mantém a ventilação constante das salas de aula, exige o uso da máscara para todos os alunos maiores de seis anos, professores e funcionários em geral. E já na entrada do colégio, verifica a temperatura e aplica o álcool gel na mão dos alunos.

De qualquer maneira, o subdiretor acredita, assim como a economista Maria del Carmen Zurita Lopez, que é preciso manter as escolas abertas. “Tivemos alguns alunos que tiveram a saúde mental afetada pela pandemia e ainda apresentam as consequências. Precisamos manter as escolas abertas e os alunos necessitam do convívio social. Apesar do alto número de contágios, o ambiente escolar é seguro”, conclui Francisco.

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