
Lisboa, Portugal.
A Alemanha é o mais novo país europeu a apostar na imigração para suprir a falta de profissionais no mercado de trabalho em diversas áreas. Assim como Portugal e Reino Unido, o governo alemão estuda realizar mudanças na lei de imigração para atrair mais trabalhadores ao país. Ao Agora Europa, o Ministério do Interior afirmou que os detalhes estão em fase de elaboração.
O principal objetivo é atrair profissionais “qualificados” em vários setores. Segundo Nancy Faeser, ministra do Interior, a imigração “pode dar uma contribuição decisiva para garantir a prosperidade na Alemanha”.
Um estudo encomendado pelo governo alemão, realizado neste ano, analisou 140 áreas de trabalho no país, para obter perspectivas sobre o mercado laboral nos próximos quatro anos. Das áreas selecionadas, apenas seis devem ter excedente de mão de obra. O maior grupo é o do comércio, que deve ter vagas reduzidas por causa do comércio online.
Nas demais, os pesquisadores encontram indícios de falta de profissionais até o ano de 2026. A principal delas é a de tecnologia, que está em expansão no país, resultando na necessidade de preencher a demanda por trabalhadores no setor.
Além da tecnologia, outras áreas que vão necessitar de trabalhadores é do saúde, especialmente nos cuidados com idosos. A hospitalidade, com empregos na área de hotelaria e restaurantes, também são citados como necessários para o mercado alemão. Assim como outros países europeus, o setor perdeu trabalhadores durante a pandemia da Covid-19.
O estudo ainda indica a área da construção civil, que requer “uma alta demanda de substituição”, por conta da aposentadoria de trabalhadores. Profissões que precisam de qualificações técnicas, como encanadores, técnicos de ar condicionado e de sistemas de aquecimento também terão cada vez mais escassez de profissões.
De acordo com o relatório, diversos fatores influenciam na falta de mão de obra. São citados o envelhecimento da população, as baixas taxas de natalidade e as condições para que as mulheres possam conciliar a vida profissional e o cuidado com os filhos, como a oferta de creches e a mudança no panorama de trabalho pós pandemia de Covid-19.
“Cada imigrante deve encontrar as oportunidades em nosso país para fazer da Alemanha sua nova casa”
Recentemente, durante um evento em Berlim, o ministro do Trabalho e Assuntos Sociais, Hubertus Heil, destacou a importância da imigração para o país: “Por muito tempo, o tópico foi instrumentalizado na política em debates polarizantes com tons racistas. Como se a migração fosse uma pergunta que pode ser respondida com sim ou não”, disse.
Hubertus declarou que o governo está comprometido com a questão imigração: “É por isso que discutimos nesta coalizão não o ‘se’, mas o ‘como” [promover a política migratória]”, ressaltou Heil. No discurso, o titular da pasta informou alguns dos tópicos que estão sendo estudados para flexibilização.
Segundo o ministro, uma das propostas em discussão imigrantes trabalhem sem o reconhecimento do diploma no país, requisito atualmente necessário: “O reconhecimento de diplomas estrangeiros custa dinheiro e tempo. Outros países não estabelecem esses obstáculos. Portanto, gostaria de abrir ainda mais o mercado de trabalho para profissionais que tenham um diploma, um contrato de trabalho, mas ainda não têm um diploma reconhecido neste país”, explicou.
Heil complementou que “se alguém tem a experiência profissional necessária e tem potencial para o mercado de trabalho alemão, então queremos dar a esses profissionais a oportunidade de vir”. As facilidades também vão visar as famílias, para que os profissionais não precisem mudar de país sozinhos: “Em particular, também queremos olhar para os membros da família e trabalhar para uma melhor integração dessas pessoas”, contextualizou.
Os detalhes de como será a flexibilização ainda estão sendo estudados. Uma das propostas antecipada pelo ministro é o chamado “cartão de oportunidade”, em tradução literal. O governo vai realizar uma análise de características pessoais e profissionais do imigrante, para analisar as competências de trabalho e o potencial de integração na comunidade. Caso atenda aos requisitos, poderá concorrer a uma vaga de trabalho no país.
“Cada imigrante deve encontrar as oportunidades em nosso país para fazer da Alemanha sua nova casa”, resumiu o ministro, que afirma que irá propor uma “lei moderna”. As autoridades alemãs ainda não souberam informar à reportagem uma previsão para que mais detalhes sejam divulgados.
A Alemanha confirmou em junho o maior aumento no salário mínimo de toda a história. O valor pago por hora passará dos atuais € 9,60 para € 12 a partir do dia 1º de outubro. Com o reajuste, o país passará a ocupar a vice-liderança da União Europeia (UE) no ranking dos maiores salários mínimos, ficando atrás apenas de Luxemburgo.
De acordo com o último censo, relativo ao mês de dezembro de 2021, dos 83,2 milhões de residentes no país, 10,9 milhões são estrangeiros. O número de imigrantes aumentou de 12,7% para 13,1% na comparação com 2020, com acréscimo de 308 mil pessoas de nacionalidade estrangeira que passaram a viver no território alemão.